Volkswagen ID.3. O elétrico mais aguardado. A espera valeu a pena?

Depois de uns dias ao volante do primeiro elétrico dedicado da Volkswagen, perspetivamos bom futuro para a marca. O VW ID.3 agradou-nos!

Volkswagen
Segmento C
Volkswagen ID.3 1st edition 58 kWh

O Volkswagen ID.3 foi, sem dúvida alguma, um dos elétricos mais aguardados dos últimos tempos. Tal como aliás sucedeu com o seu principal concorrente, o Tesla Model 3. É aliás com este que encontramos algumas parecenças, mais até do que imaginava… Este é o primeiro de uma ofensiva de modelos elétricos por parte da Volkswagen e da qual também já conhecemos o ID.4, posicionado acima do irmão mais novo. O VW ID.3 marca o início de uma nova era para a Volkswagen. Ainda não é perfeito, mas no final convenceu-me!

Em primeiro lugar, e no que diz respeito ao exterior as opiniões que recolhi são unânimes quanto às linhas bem conseguidas e muito apelativas do Volkswagen ID.3, o que não acontece com o seu rival Tesla Model 3 cujo desenho é bem mais controverso. Contudo, quando falamos do interior já não é bem assim…

Com a chegada do ID.3, a Volkswagen descontinuou o seu Golf elétrico (e-Golf), o que fez do novo modelo um substituto óbvio, e é aqui que as opiniões se dividem. Ainda que recorrendo a uma solução elétrica limitada, o Volkswagen e-Golf apresentava todas as outras qualidades sobejamente conhecidas, comuns a toda a gama Golf e que se dissiparam no ID.3, mas vamos a factos…

O melhor do VW ID3

Como já disse, o Volkswagen ID.3 convenceu-me! E porquê? Os 204 cv e o binário de 310 Nm conseguem boas reações e uma boa disponibilidade e não, não acontece com todos os elétricos. Há modelos elétricos que estão demasiado desenvolvidos em redor dos reduzidos consumos, e para que estes não ponham em causa as autonomias, a disponibilidade imediata típica dos carros elétricos é comprometida. Felizmente isso não acontece com o VW ID.3. A entrega de binário pode ser feita de forma mais bruta quando assim se pretende. Sejamos sinceros, é esse um dos encantos dos elétricos. Para ficarem com uma noção mais concreta basta dizer que este consegue deixar para trás o Volkswagen Golf GTI que o Bruno ensaiou o mês passado, nos primeiros metros. Contudo, a velocidade máxima está limitada aos 160 km/h, uma nova realidade!

Para além disso, o comportamento também não compromete. Não é super dinâmico, mas nunca compromete, com um comportamento eficaz e previsível. Mesmo quando se provoca o chassis com alguns exageros, já bem para lá do expectável, o ID.3 mantém a compostura. Vale a pena recordar que este é o primeiro elétrico da marca pensado, desenvolvido e construído para o ser, e assente na plataforma MEB, tal como o ID.4. Apesar de ser mais alto e mais pesado do que um VW Golf, o centro de gravidade é mais baixo por causa das baterias, logo em conjunto com a referida disponibilidade, é bem mais ágil. Consigo facilmente imaginar um Volkswagen ID.3 GTI. E porque não?

Em piso irregular o ID.3 revela uma boa solidez com a suspensão a saber lidar bem com todas as irregularidades. Podemos contar com bons níveis de conforto, embora aqui e ali se consiga ouvir um ou outro ruído parasita. As vantagens estendem-se ao enorme raio de viragem (brecagem), resultado da ausência de um motor a combustão demasiado grande. É muito mais manobrável que um Golf, e até mesmo do que um Polo.

O Volkswagen ID.3 é diferente de todos os seus concorrentes tanto na travagem, como na regeneração

Mas não ficamos por aqui no que diz respeito às qualidades do VW ID3. Outro ponto em que o modelo alemão é, para mim, uma referência, é na travagem. A habitual regeneração produzida na primeira abordagem ao travão é um dos “calcanhares de Aquiles” do elétricos, e até dos híbridos plug-in. Contudo, a Volkswagen conseguiu um dos melhores compromissos, o que contribui e muito para a boa experiência de condução ao volante do ID3.

Por fim, neste capítulo resta-me ainda referir o capítulo da regeneração. Ao invés de um sistema exagerado e/ou permanente de regeneração, a Volkswagen optou por deixar o ID3 por defeito em modo de “roda-livre”. Contudo, existe o habitual modo B que aumenta a regeneração, mas sem a “agressividade” de alguns concorrentes. Regenera menos, provavelmente, mas melhora significativamente o conforto para os ocupantes. Por outro lado, não me parece que seja significativo para melhores consumos. Mas há mais, e para mim é o melhor. O ID.3 dispõe de uma regeneração automática e inteligente. Regenera automaticamente sempre que nos aproximamos de um cruzamento ou rotunda, sempre que deteta um carro mais lento à frente, ou quando fazemos sinal para uma saída, por exemplo. Ou seja, ele lá sabe quando deve regenerar, e isso não só me agradou como funcionou demasiado bem nos dias que andei ao volante do ID.3.

Tecnologicamente evoluído, mas…

Inegavelmente houve um esforço por parte da Volkswagen para uma digitalização do interior, e não podia ser de outra forma, mas as coisas podiam ter corrido melhor. O sistema de info-entretenimento tem atalhos úteis, mas tem também uma posição demasiado longe do condutor que obriga este a esticar demasiado o braço. Depois, as teclas de atalho para volume e temperatura, por exemplo, não são iluminadas. Quem terá sido a alminha a esquecer-se disto?

Todavia, tem um funcionamento relativamente intuitivo. O que não é nada intuitivo e não me convenceu foram não só os comandos do volante, como o pequeno ecrã em frente ao condutor com informação muito limitada. Fica a certeza que este podia ser muito melhor aproveitado com mais e melhor informação. Os botões de comando no volante também não ajudam.

Já a iluminação é outro dos pontos fortes do VW ID.3, seja do lado de fora, seja do lado de dentro. No exterior basta ver as boas-vindas que são feitas quando nos aproximamos do ID3 à noite. Para além disso, a imagem e assinatura LED é inconfundível. No interior a iluminação LED também reina. Não apenas na zona dos pés e portas, mas num friso que percorre todo o habitáculo de uma ponta à outra e que não só é configurável, mas também permite dar informações ao proprietário. É o caso do feixe de luz em tom verde quando colocamos o ID3 à carga, indicando o nível de bateria. Para além disso, o conjunto ajuda a todo o ambiente que se vive a bordo deste elétrico da Volkswagen. Ainda assim, no interior do Volkswagen ID.3 reina a simplicidade e o minimalismo.

Quanto a consumos e autonomias, o ID3 tem dificuldade em cumprir os dados do construtor, mas ainda assim revela valores mais do que aceitáveis

Com uma utilização mista entre estrada e cidade e alguns devaneios para explorar as potencialidades dos 204 cv e do binário instantâneo, o ID.3 terminou o nosso ensaio com uma média de 17 kWh / 100 km. Tal significa que é capaz de percorrer muito confortavelmente mais de 300 km com uma carga. Contudo, aproximando essa mesma média dos 15 kWh/100 km, valores perfeitamente possíveis, já se conseguem 400 km de autonomia. Mais do que suficiente para o gasto, certo?

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Carregamentos & Bateria

O Volkswagen ID.3 está disponível em três versões de bateria (45, 58 ou 77 kWh), sendo este 1st edition disponibilizado apenas na versão de 58 kWh. A autonomia anunciada é de cerca de 400 km. Em DC, corrente contínua, o ID.3 suporta 100 kW, o que permitirá carregar até 80% em cerca de 30 minutos. Em corrente alterna (AC) são precisas mais de 24 horas para carregar a totalidade da bateria numa tomada doméstica a 2,3 kW. Esse tempo pode ser reduzido para cerca de 9 ou 6 horas em 7,4 ou 11 kW (máximo) respetivamente. Para estes dois casos não é possível utilizar o carregador/cabo fornecido, sendo necessário utilizar um outro carregador como aquele que nós utilizamos fornecido pela ADN Energy.

E o… menos bom do ID3

Pois bem, não tenho como fugir ao “elefante na sala”. A qualidade de construção! Está ao nível do que encontramos em outros modelos da Volkswagen, nomeadamente no Golf? Não! Inegavelmente o seu rival também não a tem e não é por isso que não tem sucesso. Os materiais do ID3 são inferiores e a montagem também parece não ser tão rigorosa.

A superfície em preto piano em redor dos ecrãs também não ajuda. Contudo, e na minha opinião, a inferior qualidade face a outros modelos da Volkswagen não compromete. Todavia, é uma realidade inegável e entendo quem a critique. Afinal um Volkswagen Polo pode custar metade e oferece melhores acabamentos. O interior, de premium, pouco ou nada tem.

Ainda assim, espaço não falta tanto para ocupantes como para bagagem. Os primeiros beneficiam da ausência de túnel central para uma boa habitabilidade, e contam ainda com duas portas USB-C. Por outro lado, a bagageira dispõe de 385 litros, mais uma vez superior ao “irmão” Golf a combustão.

Parecenças com o seu rival ?

Não foi pela fraca qualidade de montagem ou de materiais que a Tesla deixou de vender e crescer, mesmo cá em Portugal ou em outros países em que este fator é relevante. Talvez por isso a Volkswagen tenha descurado este capítulo no ID.3. Parece que a tecnologia é bem mais importante. Mas será o caminho certo, ou deverá a Volkswagen “copiar” apenas o mais positivo?

Contudo, convém referir que este ponto é criticável apenas porque todos estávamos à espera daquilo a que a Volkswagen já nos habituou no Golf. Indiscutivelmente a margem dos construtores nos elétricos não é a mesma, logo para colocar o ID.3 a um preço interessante, opções tiveram que ser feitas. Se foram as corretas, só o futuro nos dirá.

Mas se a Volkswagen parece ter posto os olhos no seu concorrente direto para o menos bom, também o fez para o melhor. Ainda que não dispense a habitual chave, o ID.3 não precisa dela nem mesmo para o arranque. Depois de nos sentarmos ao volante, assim que colocamos o pé no travão o ID.3 liga-se e fica pronto para arrancar. O mesmo acontece ao parar. Depois de imobilizado, basta abrir a porta do condutor para o ID.3 se desligar. Nada mais prático no dia a dia!

Conclusão

O Volkswagen ID3 não desilude como o primeiro elétrico dedicado da VW. É muito ágil, excecional na entrega de potência, tem bons níveis de espaço e já oferece autonomias bem acima do aceitável. Por fim, com o nível de equipamento que oferece esta 1st edition, não tem um preço descabido, embora descure um pouco a qualidade de construção e materiais.

Ficha Técnica

Cilindrada

310 Nm

Binário Máximo

204 cv

Potência

Cilindrada

7,3 s

0-100 KM/H

160 km/h

Velocidade Máxima

Cilindrada
Cilindrada

35 416€

Base

45 064€

Ensaiado


Thumbs UpDisponibilidade. Travagem. Condução. Espaço. Agilidade.

Thumbs DownMateriais. Comandos do info-entretenimento.