Renault Clio vs Peugeot 208: Dérbi francês

Os dois construtores disputam o 1º lugar de vendas em Portugal. Renault Clio e Peugeot 208 são os pontas-de-lança franceses responsáveis pelos bons resultados.

Peugeot Renault
Utilitário
Renault Clio 1.3 TCe RS Line vs Peugeot 208 1.2 Puretech GT Line

O segmento dos citadinos sempre teve uma importância muito grande em Portugal. Funcionando como entrada no mundo automóvel, tantas vezes na forma de primeiro carro, acabaram sempre “obrigados” a desempenhar tarefas amplas, até familiares por restrições orçamentais ou outros. Esta utilização, não apenas citadina, viu as dimensões e os conteúdos destes modelos aumentarem substancialmente ao longo de décadas. Renault Clio e Peugeot 208 são dois dos produtos mais relevantes neste segmento e que receberam novas gerações em simultâneo. Não há coincidências!

Quem é quem

Neste confronto em campo encontramos dois modelos com história, tradição e vendas, e de grande importância para ambas as marcas. O Clio é o modelo mais vendido em Portugal, e é um pilar fundamental na liderança da Renault na tabela de vendas. Com uma nova geração que chegou ao mercado no final de 2019, escolhemos para este embate o motor 1.3 TCe de 130 cv equipado com a caixa automática EDC7 e no novo nível de equipamento RS Line.

Do outro lado do campo temos o Peugeot 208, apresentado à imprensa mundial no nosso país e que chegou ao mercado um pouco mais tarde do que o seu adversário. O modelo é um ativo importante na dinâmica de produto que permite à marca do leão estar no segundo lugar da tabela de vendas nacional. Apresenta-se em campo na versão GT Line com o motor 1.2 Puretech de 130 cv e caixa automática EAT8. Com este novo 208 a Peugeot procura inspirar-se no icónico 205, um regresso a um lugar onde foi feliz.

Pontapé de saída

Apesar do aumento das dimensões exteriores, Renault Clio e Peugeot 208 baseiam-se amplamente na plataforma das iterações anteriores. Assim, o espaço disponível nos lugares dianteiros é correcto em ambos embora menos folgado para os ocupantes do banco traseiro. Devido ao formato e ao ângulo de abertura das portas o 208 representa uma dificuldade adicional para os seus ocupantes ao nível da acessibilidade.

Já no interior é possível esvaziar os bolsos em virtude da existência de espaços de arrumação nas portas e na consola central, mas no Clio nenhum desses compartimentos é fechado. Para esse efeito é necessário adquirir o apoio de braço frontal, que inclui o travão de mão elétrico (400€), equipamento que é de série no seu rival de ocasião neste dérbi.

Onde o Clio evoluiu substancialmente foi de facto na qualidade dos materiais do interior, sendo que encontramos plásticos macios no topo do tablier e em algumas zonas das portas. Já o Peugeot 208 revela qualidade de materiais inferior embora a montagem não mereça qualquer tipo de crítica. Também o desenho interior está bem inspirado. A robustez na montagem permite até sobressair face ao Clio.

No que respeita à bagageira, os dois modelos aqui presentes possuem um acesso alto mas o Renault Clio tem vantagem importante na capacidade com 391 l ao invés dos 311 l do Peugeot 208. A vantagem no espaço, nos materiais, e nos 80 l adicionais na bagageira permitem ao Clio ser superior ao seu rival no interior.

Empate ao intervalo

Sendo dois citadinos de fácil utilização, tanto desempenham papéis em ambiente urbano como não se negam a viagens mais longas, onde os níveis de insonorização são muito satisfatórios. Os ruídos aerodinâmicos são contidos e os comandos leves mas lamenta-se que nenhum destes modelos possua a função de “auto-hold”, muito útil para cidade e em versões de caixa automática.

O Renault Clio sente-se sempre “mais carro” face ao Peugeot que assume um estilo mais jovem e irreverente e que pode afastar os mais conservadores desde logo com uma posição de condução em nada comum. No entanto, em andamentos mais dinâmicos, o 208 demonstra um ligeiro ascendente sobre o Clio, pois o seu chassis tem uma boa inserção em curva. A este resultado não são alheios os pneus Michelin Primacy 4 montados em jantes de 17”. No Clio também temos um chassis previsível e seguro, mas o andamento é claramente limitado pelos Continental EcoContact que traz de fábrica.

Ambos dispõem de 130 cv nestas versões em ensaio

Equipado com um motor 1.3 l de quatro cilindros, o Clio tem uma ligeira vantagem a acelerar e a recuperar face ao 208 e a calibração do modo Sport permite tirar bom rendimento do motor. O modelo da marca do leão oferece a mesma potência, mas extraída de um boco de três cilindros com 1.2 l de capacidade.

As caixas automáticas aqui presentes adicionam comodidade no trânsito e têm um funcionamento adequado quando é preciso extrair performance destes motores. Se no Renault encontramos a EDC de dupla embraiagem e sete velocidades, no Peugeot temos uma caixa de oito relações com conversor de binário. Nenhum dos modelos consegue tirar vantagem neste item face ao seu opositor.

Também os sistemas de travagem se mostraram corretos mas realçamos que o Clio ainda recorre a um sistema de tambor atrás, solução que visa certamente um controlo de custos. Com a vantagem no comportamento do 208 balanceada pelas melhores performances do Clio, o equilíbrio é a nota dominante na dinâmica e os dois competidores neste dérbi acabam empatados neste parâmetro.

Equipamento e estilo são items comuns aos dois modelos nestas versões

Aqui presentes nas versões mais apelativas com aspeto mais “desportivo”, ambos possuem níveis de equipamento muito completos, com items como o Apple Carplay e o Android Auto, os vidros escurecidos atrás, a iluminação LED, várias entradas USB e os assistentes de manutenção na faixa e de colisão frontal a fazerem parte do equipamento de série.

Neste caso, o Peugeot 208 ganha vantagem pois adiciona os sensores de estacionamento frontais com câmara traseira, o apoio de braço com travão de mão elétrico, a roda sobresselente e as jantes de 17”. Nem o facto do Clio possuir acesso sem chave e navegação lhe permitem suplantar o seu rival.

Como seria expectável nestas versões de conteúdo mais desportivo, as suspensões são mais rígidas face ás outras variantes, no entanto, o conforto está a um bom nível em ambos os protagonistas deste dérbi entre franceses.

Contra-ataque

A posição de condução do Clio é fácil de encontrar com múltiplos ajustes de banco e volante. Já no 208, embora existam os mesmos ajustes, a posição dos manómetros acaba por dificultar a tarefa. Não é fácil encontrar uma posição confortável e em que a colocação do volante não interfira com a visibilidade do i-Cockpit.

Também na tecnologia o Clio faz a diferença face ao 208, não só pela disponibilização das câmaras 360º mas, sobretudo, pela facilidade de utilização e possibilidade de personalização do seu info-entretenimento. Estas características são realçadas no opcional ecrã de 9.3” no valor de 700 €. No 208 não temos um menu “home” que agrupe as funções disponíveis e nem com o opcional sistema de navegação (640€) o 208 suplanta o Clio, até porque os comandos da climatização estão exclusivamente colocados no ecrã, com claro prejuízo da utilização em andamento.

A melhor posição de condução e o ascendente na tecnologia possibilitam ao Clio quebrar o equilíbrio que existia neste dérbi adiantando-se no marcador.

Hattrick

Relativamente aos consumos, importantes neste segmento, num percurso misto realizado em simultâneo efetuamos média de 8.5 l/100 km com o Peugeot 208 e 7 l/100 km com o Renault Clio. O 208 mostrou-se sempre mais gastador, especialmente quando o trânsito aumenta. No Clio os valores mais comuns rondam os seis litros e em estrada é possível fazer médias abaixo desse valor, o que no 208 é praticamente impossível, mesmo recorrendo ao modo Eco disponível em ambos.

Nas emissões poluentes e nas garantias, ambas de dois anos e extensível no caso do Clio se adquirido com recurso a financiamento, o jogo é de igual para igual. No IUC, a diferença de 133 cm3 é suficiente para que o Peugeot pague menos 30€ anuais (137€ vs 103€), mas o Clio responde com um preço mais baixo.

Na versão RS Line, o Clio 1.3 TCe EDC 130 cv está disponível a partir de 23 920 €. Já o Peugeot 208 1.2 THP GT Line pode ser adquirido com um preço a partir de 25 700 €, ainda que com mais equipamento. Esta vantagem no preço do Clio abre a possibilidade de recorrer á lista de opcionais para igualar a diferença de equipamento através das jantes de 17” (500€), do apoio de braço (400€) e dos sensores frontais com câmara (490€).

O bloco de quatro cilindros do Clio consegue superiorizar-se, mesmo nos consumos

As versões em campo têm um preço de 27 200 € para o Clio e 26 610 € para o 208. Não podemos considerar nenhum destes preços acessível tendo em conta o segmento, mas o grande reforço de conteúdos que tem marcado a história deste segmento tem e vai continuar a ter o reverso da medalha nos preços de aquisição, similares ao que tínhamos em familiares compactos não há muito tempo.

O menor consumo e o preço mais em conta do Clio permitem-lhe aniquilar o adversário na categoria com maior ponderação dado o segmento em que se inserem os dois adversários, sendo a melhor proposta do segmento. O resultado vem apenas e só confirmar o motivo pelo qual o Renault Clio lidera não apenas o segmento mas o mercado automóvel em Portugal .

Um voto das bancadas

Como é habitual nos nossos comparativos, o ponto adicional que pretende avaliar a estética dos modelos a comparativo é decidido pelo nossos seguidores no Instagram. Com um aumento considerável de votantes desde o primeiro comparativo, neste caso o ponto extra foi atribuído ao Peugeot 208. Este facto apenas espelhou aquilo que verificámos durante todo o nosso ensaio. O 208 é objeto de interesse saltando à vista de tudo e todos com um estilo arrojado e que sobressai, nomeadamente nesta configuração. Vários foram os dedos e olhares apontados ao modelo.

Renault Clio 1.3 TCe EDC7 RS Line Peugeot 208 1.2 Puretech EAT8 GT Line
7 / 10INTERIOR6,4 / 10
5,3 / 7,5DINÂMICA 5,3 / 7,5
11,25 / 15CONFORTO10,65 / 15
10,68 / 17,5ECONOMIA10,15 / 17,5
0ESTÉTICA1
34,3 / 50TOTAL33,5 / 50

Conclusão

O Renault Clio ganha assim este dérbi com um ponto de vantagem face ao 208, revelando uma combinação difícil de bater. Ainda assim, ambos revelam bons atributos para estarem na frente do segmento, com o modelo da marca do leão a representar uma escolha mais emocional e o líder do segmento uma escolha mais racional.

Ficha Técnica

Cilindrada

1332 vs 1199 cm3

Cilindrada

240 vs 230 Nm

Binário Máximo

130 vs 130 cv

Potência

Cilindrada

9 vs 9,6 s

0-100 KM/H

200 vs 208 km/h

Velocidade Máxima

Cilindrada

5,8 vs 5,7 l/100 km

Combinado

7 vs 8,5 l/100 km

Registado

131 vs 129 g/km

Emissões CO2

Cilindrada

23 920€ vs 25 700€

Base

27 200€ vs 26 610€

Ensaiado