A ideia da BYD é simples: permitir que você, caro leitor, possa comprar um automóvel 100% elétrico sem ter de fazer compromissos. Oferece, assim, o novo BYD Dolphin Surf que custa menos de 22 mil euros! Ah, pois é! E sabe que mais? Sem prescindir de coisas como os estofos em pele vegan, o ecrã central generoso que passa de horizontal a vertical, carregador sem fios e mais uma série de coisas raras no segmento B. Fui conhecer esta verdadeira quadratura do círculo ali para os lados do Guincho. Apropriado já que é um Dolpin com Surf…
Após dezenas a anos a analisar automóveis (e não só…) poucas são as surpresas que os construtores conseguem fazer. O sucesso da Build Your Dreams, mais conhecida como BYD, surpreende apenas os mais distraídos.
Os europeus lançaram e vão lançar um conjunto de modelos destinados a combater os produtos chineses. As marcas do Império do Meio ainda não tinham olhado para os segmentos inferiores com a atenção devida. Com toda a certeza isso acabou e o Dolphin Surf é parte dessa ofensiva.

Por outro lado, a BYD quer acabar com a discrepância que existe entre as vendas no segmento E e D e o segmento A e B. Porque entende que todos, mesmo os menos abonados, têm direito a beneficiar da mobilidade elétrica.

Novo BYD Dolphin Surf é para o segmento A? Ou para o B?
Diga-me lá, já não viu este carro em algum lado? Claro que sim, pois o Seagull é o mesmo automóvel. Porém, o nome não era muito feliz e decidiu a BYD mudar para… Dolphin Surf, mantendo a dinâmica animal. Mais feliz? Não sei e confesso que não é coisa que me preocupe muito. A substância deste BYD é muito mais interessante.
Até porque andam por ai alguns modelos do segmento A que são interessantes como o Dacia Sprint e o Leapmotor T03. Então onde está a diferença? Diz o povo que o demónio está nos detalhes!
Com 3.990 mm de comprimento, o Dolphin Surf está encostado ao segmento B, mas os 1.720 mm de largura e os 1.590 mm de altura empurram-no para o segmento A. Por outro lado, a distância entre eixos de 2.500 mm volta a atirá-lo para o segmento acima. Portanto, o novo BYD Dolphin Surf é um citadino com ares de utilitário e equipamento de segmentos acima! Confuso? Pode estar, mas pense nesta expressão: “value for Money”. Por menos de 25 mil euros tem um automóvel 100% elétrico, com estofos em pele, ar condicionado automático, ecrã central do sistema de info entretenimento com possibilidade de rodar, vidros elétricos e etc., etc., etc.
Em suma, compra um carro e recebe outro. Mas há mais por baixo do manto desta gaivota que passou a golfinho. E a avaliação como gaivota não é lá muito agradável…

O estilo é diferente e mais divertido, verdade?
Com toda a certeza que sim! O Dolphin Surf não vai ganhar nenhum concurso de elegância, mas é bem proporcionado. Por outro lado, tem o detalhe de uma linha de cintura em cunha com os puxadores das portas alinhados por baixo dessa linha. Finalmente tem uma frente que, vá lá deixem-me fazer esta analogia, parece um… Lamborghini! Há quem diga que é mais o bico de uma gaivota que nos vai comer o jantar, mas prefiro dizer que é um Lamborghini…

E como é o interior do BYD Dolphin Surf?
Confesso que fiquei impressionado com a praticidade do interior deste BYD. Em primeiro lugar pelo espaço interior. Há lugar para matulões no banco dianteiro e atrás ainda fica espaço para arrumar as pernas. Porém, sendo um citadino, atrás, só cabem dois. Não vale a pena espremer um terceiro elemento que não cabe. Nem sequer há banco ao meio!

Em segundo lugar, gostei do facto de haver uma fila de botões físicos. Mas aqui tivemos mais um achaque chinês e encontraram uma forma de fazer bonito esquecendo o prático. Para colocar o novo BYD Dolphin Surf em andamento temos de acionar um botão rotativo com RND. E então o P? Ah… está num botão lateral colado ao RND (risos).

Para cima e para baixo andam os outros botões para ligar o ar condicionado e outras funções. Mas para aumentar ou diminuir a temperatura ou acionar o modo automático temos de ir à barra de funções do ecrã sensível ao toque. O botão só acelera (para cima) ou desacelera (para baixo) a ventoinha!

A barra está sempre fixa, independentemente da orientação do ecrã – que pode mudar num botão colocado no volante – mas é pequenina e para pitosgas como eu… não é fácil. Claro que com o tempo habituamo-nos e uns óculos acabam por ajudar.
Finalmente, dizer que o sistema de info entretenimento funciona bem, tem uma interface agradável e razoavelmente rápida. Acho que há demasiadas coisas para mexer para quem tem como função primordial conduzir. Quanto ao equipamento já lhe disse que é muito completo e inusitado para um citadino.

O carro é giro e tudo isso. Mas como é o novo BYD Doplhin Surf ao volante?
De acordo com o primeiro ensaio que fiz é excelente. No momento em que me passaram o carro para as mãos deixei que o meu hooliganismo se soltasse e mandei às malvas o percurso. Fiz a estrada do Guincho e atirei-me para a descida até à Lagoa Azul. É tudo ali na Serra de Sintra e por onde há muitos anos passou o Rali de Portugal.

Bom, o que aprendi deste primeiro ensaio? Em primeiro lugar que a base e-Platform 3.0 é rígida e que a bateria Blade é, realmente, uma mais-valia. Em segundo lugar que o motor elétrico é um poço de força empurrando com decisão o Byd Dolphin Surf para diante com ganas. Finalmente que devemos ter algum cuidado em traçados sinuoso.
Se no casco urbano o carro muda de direção facilmente e consegue manter ritmos interessantes, numa estrada muito sinuosa continua a portar-se lindamente. Mas (há sempre um mas!) o equilíbrio não é tão bom. Há que ter alguma paciência com o acelerador para evitar que a frente fique leve e comece a varrer a estrada.

No entanto, como este é um carro citadino não se preocupe muito com isso. Só não carregue a fundo no acelerador, pois o binário aparece de uma vez só e os pneus começam a queixar-se. É esse mesmo binário que nos obriga a ter algum cuidado, como já disse, à saída das curvas.

E há modos de condução e coisas dessas?
Há sim senhor! São três modos de condução (Eco, Normal e Sport) com diferenças escassas entre eles. O Sport deixa a direção mais pesada – e isso é agradável – e a auto centragem da direção é rápida o suficiente para lidar com o trânsito.
Por outro lado, a regeneração pareceu-me demasiado suave, mesmo no modo mais forte – encontra forma de alterar a travagem e a direção num submenu do ecrã central sensível ao toque – o que inviabiliza usar a ajuda da regeneração na condução.

Dizer também que os bancos do novo BYD Dolphin Surf parecem desportivos… mas não são. E quando atiramos o carro de curva para curva começamos a “dançar” o que é uma sensação sempre desconfortável. Por outro lado, em autoestrada, o Dolphin Surf sente-se bem e nem parece que foi desenhado para a cidade.

Até aqui parece tudo bem, mas… e a tecnologia? É de topo?
Para o seu citadino que custa menos de 25 mil euros, lembre-se, a BYD escolheu o “creme de la creme”. Com o fim de ser mais segura, mais durável e sem a utilização de cobalto, um minério raro, a bateria do novo BYD Dolphin Surf possui a tecnologia Blade da marca chinesa. De maneira idêntica, o motor é uma obra de arte da BYD chamado “oito em um”. Isto porque está tudo integrado: motor, redutor, carregador, conversor CC, distribuidor de energia, controlador de gestão da bateria, unidade controlo e controlador do motor. Por aqui, nada a dizer!

Voltando à bateria, o novo BYD Doplhin Surf possui duas variantes para a Blade de lítio-ferro-fosfato (LFP) com 30 e 43,2 kWh e duas velocidades de carregamento, 65 e 85 kW. Quanto aos motores, a bateria mais pequena tem um motor de 87 cv, a maior conta com o propulsor de 87 e 156 cv. De acordo com a BYD, a autonomia homologada para a versão Active com 87 cv e bateria de 30 kWh é de 220 km (356 km em cidade). Já para o Doplhin Surf com bateria de 43,2 kWh e motor de 87 cv, a autonomia é de 322 km (507 km em cidade). Finalmente o motor de 156 cv e bateria de 43,2 kW tem uma autonomia segundo o ciclo WLTP (como as outras) de 310 e 460 km, respetivamente, em estrada e em cidade.

Isso é melhor que carros do segmento B, verdade?
Com toda a certeza! Faz melhor que o Dacia Spring e o Leapmotor T03 e coloca-se no mesmo patamar do Citroen e-C3. Por outro lado, tenho de dizer que a cadeia cinemática do Dolphin Surf é interessante por mais duas razões. Em primeiro lugar pela reserva de potência que tem e permite fazer ultrapassagens enquanto o Diabo esfrega o olho. O que é um regalo em cidade e zonas suburbanas.

Em segundo lugar, depois de duas mãos cheias de quilómetros pela serra, por estradas nacionais e mais um pouco em cidade, dizia-me o computador de bordo que o consumo estava nos 12,4 kWh/100 km. O quê? Isso significa que, fazendo contas, dará uma autonomia estimada de 335 km, ou seja, consegue melhor que a autonomia anunciada de 322 km!
Resta dizer que a versão com a bateria mais pequena carrega dos 30 aos 80% da bateria de 30 kWh em 25 minutos e dos 10-80% em 30 minutos. Já a bateria de 43,2 kWh vai dos 30 aos 8’% de carga em 22 minutos e dos 10 aos 80% em 30 minutos. Ligado a uma tomada de 11 kW, os tempos de carregamento são de 3h30 para a bateria de 30 kWh e de 5h para a de 43,2 kWh.





Muito bem, é impressionante… e os preços também?
De acordo com as informações dadas pela Caetano Auto, importador da BYD em Portugal, vão estar à venda a partir do próximo mês de junho as versões Active, Boost e Comfort.
Comum a todos o ecrã de 10,1 polegadas rotativo, sensores de estacionamento traseiros, câmara de visão traseira , luzes diurnas LED, entrada e arranque sem chave NFC, cruise control adaptativo, ar condicionado, bancos em pele vegan e espelhos com ajuste elétrico. Tudo isto é oferecido por 20.885 euros com o motor de 87 cv e a bateria de 30 kWh.



A variante Boost adiciona as jantes de 16 polegadas, ajuste elétrico dos bancos, sensores de chuva e espelhos rebatíveis eletricamente. Para desfrutar deste equipamento, o novo BYD Dolphin Surf Boost custa 24.990 euros.
Finalmente, o Comfort adiciona a toda esta lista de equipamento as câmaras 360 graus, faróis LED, vidros traseiros escurecidos, luzes de apoio nos espelhos, bancos dianteiros aquecidos e carregamento sem fios do telefone. Esta variante custa 27.990 euros. Do mesmo modo, a BYD oferece garantia geral de seis anos para o veículo e oito anos para a bateria e motor elétrico.







O que é que eu penso deste novo BYD Dolphin Surf?
Uma vez que tanto se fala da qualidade dos produtos vindos do Império do Meio, tenho de dizer que este BYD Dolphin Surf é excelente. Bons materiais, boa montagem e um automóvel com um estilo sedutor para um carro tão pequeno. Depois dizer que tem espaço suficiente no interior, está forrado com muito equipamento e com um sistema ADAS excelente. Com toda a certeza que não é tão elegante como um Renault 5 E-Tech e, evidentemente, tem algumas falhas. Mas é um veículo elétrico atraente, pratico e com excelente autonomia a preços realmente acessíveis. Olhando à concorrência… pouco podem fazer face a este Doplhin Surf e os do segmento acima também não podem descansar…