O mercado das “pick-up” está em declínio acentuado. Nós explicamos porquê!

Depois do “boom” das pick-up em toda a Europa, são vários os construtores que anunciam a extinção dos seus modelos. Afinal, o que se passa?

O ano de 2017 assinalou o ponto de viragem para o mercado das “pick-up” de lazer, levando-o de um nicho de mercado, para volumes de vendas que fez com que algumas marcas que nunca tinham sequer ponderado o conceito, chegaram mesmo a colocar as suas propostas no mercado. Mas tão depressa como encheu, a bolha esvaziou-se e, hoje, as marcas estão-lhe a virar as costas.

Recuemos até 2017 e ao chocante anúncio da Mercedes-Benz de lançar o Classe X. Um carro inesperado por parte da casa de Estugarda que aproveitava um acordo industrial com a Aliança Renault Nissan Mitsubishi para construir uma “pick-up” feita em Barcelona partindo da base da Nissan Navara. E assim foi, em Portugal a primeira unidade veio para o Clube Escape Livre, e desde então que tem feito a maior parte dos eventos e reconhecimentos para as atividades do Clube.

A Mercedes-Benz foi mexendo na Classe X, deu-lhe um motor turbodiesel mais nobre com seis cilindros em V, de onde saiu a X350d. Entretanto, a Renault fez o mesmo lançando o Alaskan.

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Percorremos cerca de 1000 km ao volante da nova Mercedes-Benz Classe X V6 que já chegou a Portugal. A versão X350d está disponível a partir de 64 292€.

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Vendas dispararam

O entusiasmo gerado pela entrada da Mercedes-Benz e da Renault deu um chuto nas vendas. Basta olhar para os números.

Em 2015 venderam-se 116 565 unidades, em 2016 as vendas subiram para 156 121 veículos, mas em 2017 alcançaram as 165.121 unidades. O efeito Classe X parecia estar a funcionar quando em 2018, o primeiro ano completo de vendas da Classe X, o mercado das “pick-up” chegou aos 165 785 veículos comercializados.

Foi o máximo conseguido pelo segmento que, a partir de 2019, entrou em declínio acentuado com 159 280 unidades vendidas. Em dois anos, o mercado perdeu quase 50 mil unidades. Um número que deixa claro a explosão da “bolha” das “pick-up”.

Isso levou a Mercedes-Benz a decidir acabar com a Classe X e a Renault a fazer o mesmo com o Alaskan. Mas se estas estavam em desvantagem, uma pelo elevado preço, outra pelo efeito novidade, o que dizer da veterana Nissan Navara? A marca espanhola vai fechar a fábrica de Barcelona e isso é o guarda chuva para justificar quase tudo.

E quase tudo porque sabemos que a Nissan poderia enviar da Tailândia a nova geração da Navara e servir de base á Mercedes-Benz e à Renault. Mas o custo não seria coberto pelas vendas e no caso dos alemães e dos franceses, o plano de negócio não acusava lucro. Por isso ambas retiraram-se do mercado.

As pick-up resistentes

Permanecem a Ford com o líder Ranger, a Toyota com a Hilux a manter uma performance de vendas interessante e, por enquanto, a Mitsubishi com a L200. Mas já existem rumores que a casa japonesa poderá retirar a ficha a um dos modelos mais conhecidos no Velho Continente e a terceira “pick-up” mais vendida na Europa. Mantemos ainda a mais fiel ao conceito, a Isuzu D-Max.

A Fiat já se retirou ao deixar de vender a Fullback, feita a partir da L200 da Mitsubhishi. A VW já acabou a produção da Amarok que só estará de volta se o acordo entre a VW e a Ford gerar uma nova versão da Ranger que será muito diferente com o logótipo da casa alemã. Por outro lado a Jeep está a chegar com a Gladiator, claramente virada para o mercado americano, e alguns chineses tentam a sua sorte.

Razões para o declínio

As razões para o o fim do reinado das pick-up são simples. Em primeiro lugar a proliferação dos SUV para todos os gostos. Depois, naturalmente as exigentes regras de emissões que obrigam construtores a produzir (e vender) automóveis 100% elétricos para compensar as médias de emissões de CO2.

A construção mais antiquada não permite que a eletrificação seja uma opção, exceção apenas ao modelo do Sr Musk que já reuniu cerca de 500 mil pré-reservas. Todas as restantes, a combustão, emitem mais emissões poluentes do que seria razoável, elevando assim a média de emissões de CO2. As regras cada vez mais apertadas estão a dar um nó na garganta dos construtores. E se os modelos já são caros nesta altura, com a eletrificação tudo seria pior.

Como a ideia é ter veículos simples e fiáveis, a eletrificação não é, para já, opção e por isso o segmento irá definhar. A Ford já anunciou que a próxima geração da Ranger será híbrida Plug-In. Veremos se o mercado segue este caminho ou o segmento desaparece definitivamente.

Despedimo-nos com aquela que, para nós, podia resumir todo o segmento.