O acordo EUA-UE, recentemente assinado, sobre comércio e taxas aduaneiras tem sido um quebra-cabeças. Por outro lado, tem deixado os nervos em franja ao tecido empresarial do Velho Continente. Copo meio cheio para alguns, meio vazio para outros, a verdade é que o acordo esconde algo que há anos vinha sendo reclamado. O quê? Saiba tudo!
O demónio está nos detalhes e na declaração conjunta dos Estados Unidos da América e da União Europeia, o parágrafo oitavo está escrito de forma ambígua, prestando-se a muitas interpretações. Se quiser consultar essa declaração na totalidade, clique aqui.

Acordo EUA-UE aceita formas diferentes de ver a regulamentação?
“No que diz respeito aos automóveis, os Estados Unidos e a União Europeia tencionam aceitar e reconhecer mutuamente as normas de cada um.” Esta frase abriu uma caixa de pandora e tem estado a dividir os analistas.
Ou seja, pelo que podemos ler na tradução o mais precisa possível, vai ser possível importar veículos dos EUA para a Europa e vice-versa sem que haja a necessidade de cumprir as normas e regulamentos de ambos os lados.
Só para exemplificar: os americanos centram-se muito na segurança dos ocupantes do veículo, ao passo que os europeus olham mais para os peões; os americanos focam-se nas emissões de NOx e das partículas, os europeus preferem o CO2.

Sem alterações, tudo seria mais barato…
De acordo com uma interpretação alargada das palavras da declaração conjunta, será possível comprar um automóvel norte-americano sem que o construtor tenha de o adaptar às normas europeias. E vice-versa!
Sob o mesmo ponto de vista, será possível vender uma Ford F-150 sem alterações nos países da União Europeia e um Volkswagen Golf nos Estados Unidos, igualmente sem alterações.
Naturalmente que se assim for, reduzir-se-ão, significativamente, os custos de transformação para a homologação de um veículo no EUA ou na União Europeia. De acordo com esta ideia, um automóvel norte-americano não teria de receber para-choques específicos, capôs rebatíveis e outra eletrónica. Por outro lado, os carros americanos não teriam de instalar para choques mais robustos, atenuadores de embate na traseira mais rigorosos e nem iluminação específica dos EUA.

E como fica o WLTP e o EuroNCAP?
Com efeito, podemos perguntar, ainda, o que acontecerá com a NHTSA, a DOT e a EPA norte-americanas? Com toda a certeza que estes diversos organismos vão continuar a funcionar de forma plena. Porém, haverá necessidade de os governos clarificarem a forma de tudo isto ser compatível.
A EuroNCAP já reagiu, declarando que nada muda. Fará os testes aos modelos que estiverem à venda no Velho Continente. Mesmo os que não tiverem alterações, recebendo a nota que se justificar olhando aos métodos do organismo. Evidentemente que uma má nota de um automóvel influencia, negativamente, a carreira comercial. E na Europa dá-se muito valor ao que a EuroNCAP faz.
Com toda a certeza, muita água passará por baixo da ponte até tudo isto ser materializado. E temos sérias dúvidas que seja possível vender, de forma tão livre, modelos como as “trucks” norte americanas no mercado europeu. Palavra aos legisladores e aos Governos de ambos os lados do Oceano.