O universo automóvel ficou boquiaberto quando no último domingo estalou a bomba: Luca de Meo bateu com a porta e saiu da Renault. Diz o comunicado para perseguir novos objetivos fora da indústria automóvel. O italiano de 58 anos disse basta depois de cinco anos aos comandos do grupo Renault onde inverteu uma situação de perdas superiores a 8 mil milhões de euros numa situação, com toda a certeza, sorridente e lucrativa. As razões para este abandono são explicadas a seguir.
Vaidoso e preocupado como a sua imagem como todo o bom italiano, Luca de Meo é um dos executivos de topo mais bem sucedidos de sempre. Com 58 anos, este licenciado em administração de empresas pela Universidade de Bocconi, é um poliglota falando fluentemente inglês, francês, alemão, espanhol e, claro, italiano.

Luca de Meo começou carreira na… Renault!
Começou a sua carreira, exatamente, na Renault como responsável de marketing de produto. Passou cinco anos na casa francesa antes de dar o salto para a Toyota onde foi o gestor do Yaris e da marca Lexus no Velho Continente. Seguiu para o Grupo Fiat onde foi responsável da Alfa Romeo e relançou a quase inexistente Abarth. Foi ele, também, quem lançou o revivalista Fiat 500, um verdadeiro caso de sucesso.
Sete anos depois de ter entrado no grupo Fiat, Luca de Meo foi em 2009 para o Grupo VW onde lhe foi entregue o marketing da Volkswagen e, depois, as vendas e marketing da Audi. Rapidamente lhe foi entregue a Seat que remodelou e tornou lucrativa, levando-a a um recorde de vendas, tendo sido ele a lançar a Cupra como marca independente dedicada aos consumidores mais jovens.

Chegou à Renault em 2020 com um panorama… horrível!
Com toda a certeza que a prisão de Carlos Ghosn e a exposição de profundas clivagens entre a Renault e a Nissan, precipitaram mudanças na Renault. Quando foi contratado em 2020, Luca de Meo foi confrontado com um grupo que perdeu, nesse ano, qualquer coisa como 8,1 mil milhões de euros, um prejuízo recorde!
Perante esta situação, o italiano arregaçou as mangas e em seis semanas acabou com vários modelos, parou o desenvolvimento de mais uns quantos e desenhou uma nova gama. Dessa maneira, deitou mão a fórmulas de sucesso como a recuperação do Renault 5, um modelo 100% elétrico revivalista. Aquele que se tornou o primeiro carro elétrico europeu acessível. Um tremendo sucesso!

Por outro lado, colocou em prática o programa “Renaulution”. Com o intuito de reduzir custos e tempo de desenvolvimento de novos produtos. Um plano que foi entregue a Gilles Le Borgne, um antigo engenheiro da PSA. Só para exemplificar, de Meo conseguiu reduzir substancialmente o tempo de desenvolvimento e o novo Twingo durou apenas dois anos a ser preparado.
Além disso, Luca de Meo inverteu a estratégia de Carlos Ghosn, dando prioridade ao valor e não ao volume, colocando a tónica nas vendas de produtos com maior margem de lucro. Com toda a certeza, o sucesso de vendas de carros com pouca margem não satisfez De Meo.

Luca de Meo inverteu a situação da Renault
Com efeito, o executivo italiano trocou muitas coisas dentro da casa francesa. Por exemplo, deu mais ênfase à Alpine com a sua presença na Fórmula 1 e no WEC. Melhorou a gama com o A260 e o A390, ambos elétricos, mas de grande qualidade. E a verdade é que a Renault foi a única a não ter um aviso de quebra de lucros, fechou 2024 com um lucro operacional de 4,3 mil milhões de euros e uma margem de lucro operacional de 7,6%.

Deixa assuntos por resolver
A aliança com a Nissan continua a ser uma pedra no sapato e De Meo não resolveu essa questão. Os prejuízos da Nissan continuam a afetar os resultados da Renault e por isso o CEO do grupo estava a desfazer-se do capital da Nissan e a desligar-se, aos poucos, desse fardo.
Por outro lado, Luca de Meo sofreu em 2022 um forte revés quando a Rússia invadiu a Ucrânia, tendo de “despachar” a Lada por um vintém, anulando o projeto de fundir a Dacia com a Lada. Felizmente que isso não afetou a Dacia que continua a estar muito bem em vendas e no que à saúde financeira diz respeito.
Finalmente, Luca de Meo não consegui posicionar a Renault nos maiores mercados mundiais, os EUA, a India e a China. Seja como for deixa a casa francesa no pico de uma nova ofensiva de produto: Renault 4, Dacia Bigster, Alpine A390 (rival do Porsche Macan EV) e com uma situação financeira saudável.

Verdadeiras razões para a saída
“Há altura na vida de uma pessoa que temos de encarar a nossa missão como terminada. No Grupo Renault enfrentei imensos desafios em menos de cinco anos! Conseguimos aquilo que muitos julgavam impossível!” Palavras de Luca de Meo! Que vai sair da Renault a partir do dia 15 de julho para assumir os destinos da Kering, empresa detida pela holding Artemis de François-Henri Pinault. E tomar conta de marcas como a Gucci ou Balenciaga
Tudo começou com o Covid-19 e com a incapacidade do maior acionista da Renault, o Estado francês, de forçar os apoios à produção de carros elétricos. Depois, Luca de Meo está farto de lutar contra os organismos europeus. Juntando-se a Carlos Tavares na culpa dos decisores europeus para o atual estado da indústria automóvel europeia.

Finalmente, a imposição do Governo francês de produzir drones de guerra para a Ucrânia nas suas fábricas. Tudo razões para o transbordar do copo e para a saída para procurar outras oportunidades, leia-se, menos dores de cabeça que nos automóveis.
Porém, Luca de Meo vai para um grupo de marcas de luxo que passa por dificuldades. Foi o italiano o escolhido para dar a volta à situação. Assim, Luca de Meo volta as costas ao universo automóvel ao qual, diz em surdina, não deseja voltar…