Faz parte da história da indústria automóvel europeia e mundial sendo um dos destaques da memória da sociedade gaulesa. Ao longo de mais de 30 anos foi um símbolo da cultura popular francesa. A sua simplicidade e pragmatismo ficaram plasmadas no nome: Renault 4L, o número refletindo o motor de 4 cavalos fiscais (classe de imposto) e a letra a palavra “Luxe” (luxo) que a marca francesa decidiu juntar à prosaica e simples 4L. Hoje há uma nova Renault 4, desta feita elétrica e que o Escape Livre já ensaiou.
Sabia que na Colombia o Renault 4L era conhecido como “amigo fiel”? Na Bósnia era “mali div” (o pequeno gigante) e em Espanha todos lhe chamavam “cuatro latas”? Entre nós será, sempre, a 4L.
Com toda a certeza que o Renault 4L nos diz muito aqui no Escape Livre. Em primeiro lugar porque a produção da 4L foi na Guarda durante muitos anos. Depois porque foi um dos carros de serviço da Rádio Altitude, a emissora que transmite o mais antigo programa de rádio dedicado ao automóvel… o Escape Livre.
Depois, a produção acabou em Setúbal, mas sempre no formato CKD (Complete Knock Down), ou seja, em peças para montagem. Contas feitas, venderam-se quase 100 mil unidades vendidas entre nós e quase 200 mil produzidas em solo português. Não espanta, por isso, que ainda circulem muitas unidades nas estradas nacionais e muitos sejam os que procuram ter uma na sua garagem.
Símbolo da cultura automóvel francesa
De acordo com os registos da Renault, o Projeto 112 tinha como primeira missão substituir o envelhecido 4CV. Em segundo lugar oferecer uma réplica capaz ao fenómeno Citroen 2CV. Aliás, Pierre Dreyfus, presidente da Renault na época, não esteve com rodeios e pediu à sua equipa que criasse uma viatura “polivalente, capaz de se mover no ambiente urbano como no rural correspondendo a todas as necessidades de todos. O automóvel calças de ganga!”
Por outro lado, a Renault queria um carro acessível e o teto de preço ficou estabelecido nos 350 mil francos, qualquer coisa como 6.425 euros. Foram produzidos diversos protótipos entre 1956 e 1961 que estudaram a possibilidade de usar motores de 2 e 4 cilindros (refrigerados a ar ou com água), diferentes tipos de configuração das transmissões e altura ao solo.
Só para ilustrar, o Renault 4 tinha de ter capacidade para andar nas estradas de terra que faziam parte do sistema rodoviário francês. No dia 26 de agosto de 1961, a Renault colocou 25 unidades do R4 nas mãos dos jornalistas em Camargue. E porquê nesta região da Provença onde está a maior população de flamingos da Europa? Porque a casa francesa queria demonstrar que o Renault 4 podia enfrentar as zonas mais complicadas em terra e lama.
Renault 4: primeiro tração dianteira da marca
Com efeito, o ensaio foi um sucesso e o Renault 4 foi apresentado com pompa e circunstância no dia 4 de outubro de 1961 no Salão Automóvel de Paris. Foram disponibilizadas 200 unidades para o público experimentar e comprovar o que tinham dito os jornalistas.
Por outro lado, ficava evidente que o 2CV tinha sido o alvo do 4L. Estreava a tração dianteira na Renault; tinha suspensões independente com afinação suave; a carroçaria desmontava-se em peças ficando apenas o chassis; o preço ficava abaixo do 2CV; praticabilidade no interior e na bagageira; simplicidade mecânica com elevada fiabilidade.
Com o intuito de ser melhor que o 2CV, a “Quatrelle” oferecia melhor desempenho graças ao motor de 4 cilindros (que permitia chegar aos 100 km/h) e era ainda mais prático. Só para ilustrar, o portão traseiro, na época só nas carrinhas e comerciais, oferecia maior versatilidade. E, claro, era mais agradável à vista.
Várias evoluções ao longo das décadas
Em virtude de todas estas novidades, o sucesso do Renault 4L foi imediato e entre 1962 e 1965 e entre 1967 e 1968, foi líder de vendas em França. Quando saiu de produção, tinham sido feitas 8.135.424 unidades. O que torna o 4L o segundo modelo francês mais vendido da história, atrás do Peugeot 206.
Os utilizadores destacavam o estilo simples, mas agradável, a grande versatilidade e a enorme fiabilidade. Aliás, ainda hoje assim é e unidades com milhares de quilómetros são, facilmente, restauradas.
Por outro lado, o Renault 4L conheceu várias evoluções ao longo da sua vida. Nesse sentido foram aplicados diversos motores cada vez mais potentes e eficientes e novas funcionalidades. Foi usado pelos Correios, como Táxi, viatura policial e, claro, na competição automóvel.
Temos de destacar, claro, a presença no Mundial de Ralis de António Pinto dos Santos que levou a sua Renault 4L a onze ralis entre 1992 e 2000. Esteve no Rali de Portugal por três vezes, foi ao Rali Acrópole (Grécia), aos 1000 Lagos (Finlândia), Volta à Córsega e ao Sanremo (Itália). Nunca abandonou! A seu lado esteve Nuno Rodrigues dos Santos, reconhecido navegador português nascido na Guarda.
Renault 4: um automóvel para todas as missões
O modelo da casa francesa ficou conhecido, também, pela sua capacidade de transportar cargas pesadas, graças a uma bagageira generosa. Dessa maneira, a Renault foi criando versões, particularmente, a “fourgonette”. Esta era muito procurada devido à capacidade de carga e facilidade de entrada e saída das mercadorias.
Em contrapartida, foram oferecidas versões descapotáveis que adicionavam emoção às características de base do 4L.
Sete motores entre 27 e 34 cv
O Renault 4L recebeu nada menos que sete motores de 4 cilindros a gasolina, com potencias entre os 27 e os 34 cv. Pode parecer pouco, mas a verdade é que os diversos blocos com diversas cilindradas eram mais que suficientes para rolar a velocidades de cruzeiro confortáveis.
Polivalente e símbolo da classe operária
Por outro lado, eram motores económicos, o que era muito apreciado por aqueles cujos recursos eram mais escassos. Nessa medida, a polivalência do 4L respondia às necessidades de todos.
De acordo com as informações disponibilizadas na época, o Renault 4L tinha uma suspensão para ir a todo o lado. Em primeiro lugar tinha suspensão independente nas quatro rodas, algo que nem hoje todos podem dizer o mesmo. Em segundo lugar, era muito resistente e fiável. Ou seja, podia ser usado em qualquer tipo de piso e atravessar campos e terrenos acidentados.
Por tudo isto, o Renault 4L passou a ser um símbolo da classe operária e dos trabalhadores agrícolas. E com o passar dos anos tornou-se icónico em França e no estrangeiro. A produção encerrou em 1992, mais de 30 anos depois do lançamento do primeiro modelo, em França. Prolongou a sua vida em países como Espanha.
O Renault 4 é objeto de desejo… ainda hoje!
Acabada de chegar a versão moderna e 100% elétrica do 4L, o original continua a ser um objeto de desejo por parte de colecionadores e daqueles que adoram a versatilidade, simplicidade e fiabilidade do Renault 4L.
Com toda a certeza, o Renault 4L é um símbolo de uma época que nos faz viajar até à nossa infância e às viagens em família onde tudo cabia e todos se divertiam. Hoje é dos veículos mais fáceis de restaurar, devido à sua mecânica simples, facilidade de manutenção e fiabilidade. É o automóvel ideal para quem deseja lançar-se na viciante atividade de restauro de carro antigos.
Será uma aventura interessante unir na mesma garagem o Renault 4L original e o novo Renault 4L totalmente elétrico. Será o fechar de um círculo com uma visão diferente do universo automóvel com cerca de 60 anos de separação.
Na galeria de fotos abaixo, poderá ver a campanha lançada pela Renault para dizer adeus ao Renault 4.
