Elétricos. Valor residual baixo é mais um problema para os construtores!

É mais uma má notícia para a mobilidade elétrica: o valor residual baixo dos elétricos, distorce o mercado de usados e obriga a compensações.

É mais uma má notícia para a mobilidade elétrica. O valor residual baixo dos elétricos distorce mercado de usados e força financeiras a pedir reembolsos aos fabricantes. Ou, pelo menos, que façam o buy back dos veículos. Com toda a certeza essa exigência serve para se defenderem da forte erosão dos valores residuais dos modelos 100% elétricos. Um deslize de quase 1,2 mil milhões de dólares!

O Efeito Borboleta é uma metáfora usada em várias áreas. Faz parte da Teoria do Caos e aplica-se ao que se passa com a mobilidade elétrica. O bater de asas de uma pequena borboleta pode influenciar o mundo e, no caso da mobilidade elétrica, tudo foi espoletado pela agressiva postura da Tesla no corte de preços. Um bater de asas que tem tido consequências impressionantes!

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Valor residual está a prejudicar as financeiras

Em virtude da novidade, os veículos elétricos colocaram vários problemas assim que foi dado o pontapé de saída para esta mudança de paradigma. Em primeiro lugar, foram os seguros. Como determinar os valores dos prémios a pagar pelo cliente à seguradora? Em segundo lugar, a ansiedade da autonomia. Finalmente, a necessidade de carregar fácil e rápido.

Porém, a maior barreira nesta corrida de obstáculos ainda não foi superada… o preço! Os veículos elétricos continuam caros, financiar a compra é caro e, agora, passados alguns anos, chegou o maremoto. A forte depreciação dos veículos elétricos e os baixos valores residuais no mercado de usados está a custar milhares de milhões de euros!

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Com o fim de serem ressarcidas, as empresas financeiras exigiram aos construtores compensações pela queda do valor residual. Só para exemplificar, os contratos de leasing baseiam-se no valor estimado de um veículo quando o contrato expira com pagamentos que cobrem a depreciação. Se o valor residual cair mais que o previsto e a depreciação não for coberta com as rendas, a financeira está a perder dinheiro com esse veículo.

Até porque, depois, na venda como usado, é impossível repercutir no comprador toda a depreciação, pois estaria acima do valor médio de mercado e ficaria sem cliente.

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Efeito Borboleta, perdão, descontos Tesla

Por certo que tudo isto começou com a guerra de preços iniciada pela Tesla. A sentida redução da procura por veículos elétricos prejudicou, de forma sensível, o rendimento da marca norte americana. A reação imediata foi reduzir preços de forma muito agressiva.

Alguns construtores tradicionais, cientes dos erros do passado com as políticas de desconto e redução de preços, tentaram resistir. Porém, acabaram arrastados pela eficácia momentânea desta estratégia.

Por conseguinte, assistimos ao efeito Borboleta, ou melhor, ao Efeito Descontos Tesla: a baixa de preços não resolveu a quebra da procura de veículos elétricos globalmente. E o bater de asas dos descontos provocaram um maremoto de proporções não totalmente conhecidas.

Para já está avaliado em 1,2 mil milhões de dólares (cerca de mil milhões de euros) e empresas como a Arval (do banco BNP Paribas) e a Ayvens (formada da fusão da ALD Automotive e do gigante Lease Plan e a maior empresa de financiamento automóvel na Europa), os maiores do Velho Continente, estão a sofrer. Só para exemplificar a dimensão do problema, a Ayvens tem na sua frota mais de meio milhão de veículos elétricos!

Soluções? Buy Back ou injetar veículos usados no mercado de renting e leasing

Perante este problema gigantesco, as empresas financeiras estão a fazer vários acordos com os construtores. Os que têm financeiras próprias – casos da Volkswagen (Volkswagen Financial Services), a Stellantis (Leasys) ou a Mercedes (Mercredes-Benz Mobility) – usam a teoria dos vasos comunicantes e dividem o mal pelas aldeias.

Os outros estão, já, a pagar compensações. Segundo o diretor executivo da Ayvens, Tim Albertsen, os cheques recebidos dos construtores podem não ser suficientes. Em declarações à Automotive News Europe, este responsável da Ayvens disse que “atualmente, os fabricantes têm de continuar a vender veículos elétricos. Assim, precisamos de algum tipo de proteção da parte deles em termos de preços futuros.”

Soluções para o problema são várias. Para além dos cheques compensatórios, fala-se na recompra dos veículos pelos fabricantes (Buy Back) ou acordos para voltar a colocar no mercado de leasing e renting veículos bem conservados uma segunda e terceira vez.

Solução para o valor residual dos elétricos é muito complicada

Porém, tudo isto não está a ser suficiente e a solução para o valor residual dos elétricos ser baixo é, mesmo, mais complicada do que se supunha. Desde logo porque há várias empresas que aderiam à mobilidade elétrica estão a recuar. Só para exemplificar, a SAP já anunciou que vai deixar de entregar modelos da Tesla aos seus colaboradores. Porquê? Porque a flutuação dos preços impossibilita planear e gerir o risco financeiro.

Por outro lado, a maior empresa de aluguer de automóveis no Velho Continente (Sixt) anunciou que vai deixar de oferecer para aluguer os modelos da Tesla. Decisão que já antes a Hertz tinha tomado a nível global com a retirada de 20 mil automóveis elétricos da frota!

Ursula Weigl, da consultora McKinsey, em declarações ao Automotive News Europe, foi clara como água. “O mercado de veículos elétricos está extremamente distorcido por esquemas de incentivos em todo o mundo. A procura é estimulada de forma artificial, mas termina quando se chega ao mercado de usados.”

Para já a ordem entre os fabricantes de automóveis é oferecer garantias de recompra às financeiras e empresas de aluguer. Isto para que mantenham as vendas. Ou seja, por enquanto asseguram o essencial e atiram o risco lá mais para a frente. Nessa altura vão ter de assumir as perdas, pois vão injetar o mercado de usados com modelos, obrigatoriamente, baratos o suficiente para serem atrativos.