Problemas da Polestar são a ponta do iceberg das dificuldades da eletrificação

Os problemas da Polestar são a ponta do iceberg das enormes dificuldades dos construtores face aos custos da mobilidade elétrica.

Quem vendeu a mobilidade elétrica como o paraíso deve estar hoje muito arrependido. Quem bateu no peito e afirmou antecipar o fim dos motores de combustão para ser construtor 100% elétrico para salvar a humanidade, hoje pergunta onde está a rentabilidade. Com toda a certeza, os problemas da Polestar colocam os construtores automóveis tradicionais, “start-ups” e investidores que apostaram mais de mil milhões de euros na mobilidade elétrica… em apuros e à beira de ter de tomar decisões difíceis.

O que parecia um comboio a caminho da estação sucesso, está a transformar-se numa subida íngreme que ameaça o descarrilamento. Só para exemplificar, a Geely, dona da Volvo e da Polestar, teve de assumir o financiamento da Polestar. As necessidades desta marca nascida no seio da Volvo são de 1,3 mil milhões de euros de financiamento para tentar o ponto de equilíbrio em 2025!

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Não está em causa a validade e qualidade dos produtos, até porque a Polestar cresceu 132,3% em 2023, com 295 unidades vendidas no mercado nacional, mas sim a sobrevivência e rentabilidade de um construtor que opta por comercializar apenas modelos 100% elétricos. O caso da Polestar é muito idêntico ao da CUPRA, mas esta última com uma rentabilidade capaz de seguir o seu próprio caminho. As diferenças? A CUPRA comercializa o Leon e o Formentor, com mecânicas gasolina, Diesel e híbridas plug-in, para além do seu modelo 100% elétrico, o Born.

Problemas da Polestar são a ponta do iceberg

Com o propósito de justificar a aposta na mobilidade elétrica, muitos esgrimem o exemplo da Tesla. Tem o carro mais vendido no mundo e tem uma avaliação bolsista de 1 trilião de dólares. Porém, isto é resultado de anos e anos de investimentos pesadíssimos (ainda não recuperados) antes de chegar ao lucro.

Dificuldades dos mais pequenos

Uma vez mais, Carlos Tavares, CEO da Stellantis tem razão. Quem não tiver escala vai ter muita dificuldade em sobreviver. Os custos da eletrificação são gigantescos e só empresas com muito músculo financeiro capazes de enfrentar uma hemorragia financeira controlada podem continuar o esforço.

Tudo porque a procura está a desacelerar e até chegarem os produtos “low cost” ainda vai levar algum tempo. É um momento difícil, pois todos vão ter de mostrar como chegar à rentabilidade e como vão competir com os financiados chineses.

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Guerra de preços piora tudo

Por outro lado, as condições de que a Tesla beneficiou em 2018 – dinheiro barato, investidores com liquidez e paciência e ser únicos no mercado – não se verificam agora. E a guerra de preços que a Tesla lançou – e que a chinesa BYD aprofundou – foi o espoletar de uma crise que se cresce cada vez mais.

Paralelamente, os mercados de capitais estão a afastar-se dos produtos EV olhando ao arrefecimento das vendas e os prejuízos a amontoarem-se. Com isso, as fontes de financiamento foram se fechando e os construtores só podem contar, agora, com os apoios estatais.

Valorização em queda na Tesla…

A tesla já perdeu 40% do seu valor e Elon Musk disse que em 2024 o ritmo de crescimento vai abrandar. Nesse dia a empresa encolheu 80 mil milhões de valor em bolsa. Com toda a certeza, não falta exemplos de problemas. Só para ilustrar, a Ford aumentou a produção da F-150 Lightning 100% elétrica antecipando forte procura. Em janeiro de 2024, cortou para menos de metade essa produção.

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A subir na Volvo e General Motors

A Stellantis não tem tido pejo em solicitar mais apoios do governo italiano para manter as fábricas da Fiat a produzir modelos elétricos. Por outro lado, a ameaça social dos despedimentos está a ganhar corpo e, em Itália, o Governo está disposto a adquiri parte do capital da Fiat para suportar os empregos.

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Paralelamente, os mercados vêm com bons olhos quem recua nas despesas. O anúncio da transferência do financiamento da Polestar da Volvo para a Geely, ofereceu 30% de aumento no preço das ações da maca sueca. Ou seja, os problemas da Polestar ofereceram uma oportunidade à Volvo.

Quanto ao CEO da General Motors, Mary Barra, declarou que iria recuar nos gastos com a mobilidade elétrica e lançar uma recompra de ações no valor de 10 mil milhões de dólares, as ações dispararam 50%!