Carlos Ghosn diz que a Aliança Renault Nissan é “pequena e frágil”

Carlos Ghosn, antigo CEO da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, refugiado no Líbano, deu uma entrevista ao jornal francês “Le Parisien” e abordou vários temas.

Carlos Ghosn, o antigo CEO da Aliança Renault Nissan Mitsubishi, refugiado no Líbano, deu uma entrevista ao jornal francês “Le Parisien” e abordou vários temas. Pelo meio disse que ser acusado pelo facto de o grupo franco nipónico estar em grandes dificuldades desde a sua prisão no Japão… é apenas “risível”. O libanês com várias nacionalidades refugiado em Beirut deu esta entrevista na mesma altura em que Greg Kelly, que fez parte da gestão de Ghosn, estava em tribunal. No Japão!

Recordamos que o norte americano foi preso em novembro de 2018 juntamente com Carlos Ghosn em Tóquio. A acusação apontava para fraude com as remunerações por parte de Ghosn e dos seus executivos.

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A fuga de Carlos Ghosn do Japão

Entretanto, enquanto esperava pelo julgamento em prisão domiciliária, Carlos Ghosn engendrou um esquema requintado, caro, mas eficaz, de fugir do Japão. Fugiu numa caixa expedida por dois americanos que estão detidos em Tóquio e à espera de julgamento.

Quanto a Greg Kelly, ficou no Japão e dia 3 de março deverá saber a sua sentença que, dizem alguns especialistas em direito japonês, poderá chegar aos 10 anos de prisão.

Enquanto isso, Ghosn goza de impunidade em Beirute e tentou ir a Paris. Mas o mandado de detenção pedido pelo Japão à Interpol, levou-o a ficar em casa.  Por outro lado, ele é cidadão francês e França não tem acordo de extradição para o Japão e é raro os gauleses extraditarem os seus cidadãos. 

Portanto, ficou em casa porque Carlos Ghosn enfrenta em solo francês processos sobre as suas finanças.

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“Não estou arrependido!”

Após ter fugido do Japão em dezembro de 2019, Carlos Ghosn não se declara arrependido. Quando os jornalistas do “Le Parisien” o questionaram sobre se tinha feito a decisão certa em fugir do Japão, o executivo disse sem hesitação “sem a mínima sombra de dúvida.”

Por outro lado, Carlos Ghosn diz que é “simplesmente risível” culpá-lo a ele pelos problemas que a Aliança Renault Nissan Mitsubishi enfrenta desde que foi preso.

Apesar desta declaração, percebeu-se, com a sua saída, as fortíssimas fissuras que o acordo entre franceses e japoneses possuía. Devidamente maquilhadas durante duas décadas. Maquilhagem essa que foi exposta pelos executivos da Nissan, aterrorizados com a possibilidade de a fusão da Nissan com a Renault acabar com a empresa nipónica. E, isso, o orgulho nipónico não permite.

Ghosn tentou por todos os meios levar á fusão, a Nissan resistiu e acabou por entregar a cabeça do libanês numa bandeja de prata ao Ministério Público japonês.

Carlos Ghosn critica atual gestão da Renault

Olhando ao que se passa, uma das estrelas, agora cadente, da gestão automóvel lembra que “na verdade, aquele que poderia ser o construtor nº1 do mundo, tornou-se num construtor pequeno e frágil. E entristece-me ver que a Renault é, agora, uma sombra daquilo que já foi.”

E não tem pejo em dizer que “são indecentes” os esforços que a atual gestão e o Estado francês, acionista da Renault, estão a fazer para “culpa a estratégia de volume” como a mãe de todos os males da Aliança.

Recordamos que a Renault registou perdas recorde de 7,29 mil milhões de euros no primeiro semestre de 2020 e recebeu um empréstimo de 5 mil milhões de euros do Estado francês.

Sobre o plano de Luca de Meo para se concentrar no valor e não no volume, Carlos Ghosn diz que é “muito bom fazer anúncios sobre planos, mas a estratégia vale apenas 5%, ações e resultados são 95% do trabalho. Até agora, temos ouvido muitas palavras e resultados muito medíocres.”

“Perdi muito dinheiro” diz Carlos Ghosn

Quanto à sua vida pessoal, Carlos Ghosn referiu que perdeu muito das suas poupanças desde que fugiu para o Líbano. Em parte, pela perda de valor da sua posição acionista na Renault e na Nissan. Por outro lado, o colapso da economia libanesa e as taxas e pagamentos que teve de fazer a advogados.

Ainda assim, “comparado com a esmagadora maioria dos libaneses, não tenho nada de que me queixar. Porém, perdi uma fatia muito grande daquilo que poupei ao longo da minha vida.”

Quando for possível “vou regressar a França. Fui educado em França, vivi em França e tenho uma ligação muito forte ao país. E sim, quando chegar o dia em que possa ir, irei a França!”