Ficou o título de Campeão do Mundo de Fórmula 1 bem entregue em 2021?

Mesmo que escrita por linhas tortas, a vitória de Max Vertappen no último Grande Prémio, e que o levou à conquista do título é mais que justa

Esta será, porventura, a pergunta do milhão de dólares. A questão que mais tem sido levantada e a dúvida que permanece no coração dos adeptos de Lewis Hamilton. Que tem resposta absolutamente positiva por parte dos torcedores de Max Verstappen. Então, porque levantar, uma vez mais, a questão? Porque há uma terceira via de olhar o que se passou na Fórmula 1 em 2021… apenas com a razão!

Antes de qualquer outra consideração tenho de dizer que este foi dos melhores campeonatos de Fórmula 1 das últimas décadas, fortemente influenciado pelo trabalho da Netflix e por um calendário denso e longo que “criou” o hábito de ver corridas semana a semana ou de quinze em quinze dias.

A luta quase sem quartel entre Lewis Hamilton e Max Verstappen foi a cereja no topo do bolo, peleja que ficou escrita em granito depois dos testes de pré-temporada. O avanço da Red Bull e da Honda encontrou uma Mercedes ufana, sentada em sete títulos mundiais e absolutamente crente num acomodar de todos face à nova Fórmula 1 que estava ao virar da esquina.

Trabalho árduo de ambos os lados

O trabalho que a equipa de Christian Horner e Adrian Newey fizeram foi incrível oferecendo ao jovem neerlandês uma arma poderosa. Mas que dizer da recuperação da Mercedes? Podem até não gostar da formação de Brackley, mas que recuperação fez a equipa de Toto Wolff em 2021 para chegar a Abu Dhabi em condições de reclamar o título de pilotos já que a oitava coroa de construtores acabou por ficar, praticamente, resolvida mais cedo.

O mercúrio do termómetro da excelência da temporada de 2021 esteve sempre quente com uma onda de fervor semelhante às lutas entre Ayrton Senna e Alain Prost, Nigel Mansell e Nelson Piquet, Michael Schumacher e Mikka Hakkinen, James Hunt e Niki Lauda. Maior só mesmo a onda vermelha que continua a empurrar a Ferrari!

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Formou-se ao longo do ano uma onda de apoio polarizada entre Verstappen e Hamilton com feroz defesa de ambos os lados com a troca de argumentos a escalar para níveis nunca antes conhecidos que roçaram a violência.

Portanto, a questão da justiça do título de Max Verstappen impõe-se naturalmente. Independentemente de os adeptos gostarem ou não.

Título merecido, e justo!

Como questão de princípio, quem vence merece a conquista e verdade, verdadinha, Max Verstappen ganhou 10 corridas, fez 10 “pole position”, 6 voltas mais rápidas, 18 pódios, liderou 652 voltas e cumpriu 2989 km na liderança. Fez 93,37% das voltas feitas em 2021 (1.211) e fez 5908 km (92,14%). Além disso, ganhou a derradeira corrida quando estava em igualdade pontual com Lewis Hamilton.

Portanto, o título de Max Verstappen é justo e todos devem dar os parabéns ao jovem piloto neerlandês nascido na Bélgica que cumpriu em Abu Dhabi 141 Grandes Prémios, rubricou a sua 20ª vitória e a 13ª “pole position”. Tudo isto com apenas 24 anos, ele que tem o recorde do mais jovem piloto a ganhar um Grande Prémio (Espanha com 18 anos 7 meses e 15 dias) sendo o quarto mais novo – atrás de Sebastian Vettel, Lewis Hamilton e Fernando Alonso – a conquistar o Mundial de Fórmula 1.

Polémica em Abu Dhabi

As questões que surgiram durante a prova final do Mundial de Fórmula 1 de 2021 são diferentes e para uns será um copo meio cheio, para outros um copo meio vazio e para alguns será um copo partido.

Pegando nos regulamentos e separando os artigos que se aplicam ao sucedido, o que aconteceu em Abu Dhabi foi tudo menos regular. E digo-o sem problemas! Michael Masi meteu os pés pelas mãos e os comissários desportivos acobardaram-se. É tão simples quanto isto. Quais seriam, então, as opções?

Sabendo que estava em discussão o título da Fórmula 1 para 2021, Michael Masi tinha apenas que olhar para o acidente de Nicholas Latifi como de elevado perigo para a integridade dos pilotos, lançar a bandeira vermelha, parar a corrida e deixar que no final Mercedes e Red Bull usassem os recursos táticos para tentar a vitória.

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Não tendo tido essa coragem e lançando o “Safety Car”, Michael Masi sabia, perfeitamente, que não haveria tempo para cumprir todos os procedimentos habituais como, crucial, o desdobrar dos pilotos com voltas de atraso. E aqui tenho de dizer que as coisas seriam mais simples se seguissem o procedimento dos norte americanos.

Só se podem desdobrar os pilotos que fiquem entre o “Safety Car” e o primeiro classificado. Os outros não podem passar. Ponto!

A direção de prova percebeu que não havia oportunidade para oferecer o “freepass” aos pilotos atrasados e impediu que estes passassem pelo “Safety Car”. Isso permitira que se fizessem duas voltas em bandeira verde.

Ao perceber que havia cinco carros entre os dois candidatos ao título, a direção de prova decidiu deixar passar Lando Norris, Fernando Alonso, Esteban Ocon, Charles Leclerc e Sebastian Vettel, mas barrou o procedimento para Daniel Ricciardo, Lance Stroll e Mick Schumacher.

Aqui está o atropelo do regulamento… teriam de ser todos os pilotos beneficiados e não apenas os que estavam entre Hamilton e Verstappen.

Tudo o resto interessa pouco, pois a Red Bull jogou a Roleta Russa e quando “disparou”… estava a bala na câmara, já que não havia permissão para os atrasados ultrapassarem e ficou claro que quando saiu das boxes após trocar de pneus o título tinha fugido.

A sorte, ou a falta dela, fazem parte!

A Mercedes olhou para o “Safety Car” e, em primeiro lugar, percebeu que não iria haver tempo útil para cumprir todos os procedimentos. Depois, acreditou que não haveria regresso da corrida à bandeira verde. Finalmente, quando Masi disse que ninguém poderia ultrapassar o “Safety Car” e viu Verstappen nas boxes, os estrategas da Mercedes não quiseram mudar os pneus do carro de Hamilton.

Quando foi dada ordem para os pilotos entre o britânico e o neerlandês passarem o “Safety Car”, Toto Wolff sentiu-se traído e todos perceberam que o título estava perdido. A Roleta Russa da Red Bull tinha pólvora seca e acabou por dar a vitória a Max Verstappen.

E com isto voltamos ao principio… foi justa a vitória de Max Verstappen? Foi! Mesmo que escrita por linhas tortas e espera-se, agora, que a Mercedes não prossiga com o protesto que ameaçou, mesmo que, juridicamente, tenha razão e grandes possibilidade de ganhar. Isto, apenas e só porque seria uma pena que o título da Fórmula 1 em 2021 (a melhor época do Mundial de Fórmula 1) fosse decidido nos tribunais.